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Fundado em Setembro de 1965
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"Amigos para sempre (é o que nós iremos ser)"

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Auto-retrato, nanquim, bico-de-pena e aguada, 77 x 54 cm, 1964

Não tenho nenhuma relação com ela, então, fica difícil de responder. Acho que o Aldemir ocupa um lugar na arte universal. O lugar de uma pessoa que teve coragem de fazer com prazer o que gostava. Ele foi um dos primeiros artistas a ter notoriedade mas, infelizmente, o Brasil menospreza a arte brasileira. Artistas como o Aldemir, Segal, e toda essa geração incrível que inclui Marcelo Grassman, Otávio Araújo, Mário Gruber, tiveram um papel fundamental na arte atual.

Gilberto Salvador: Essa coisa de ranking é meio complicada. O Aldemir é importante. Se ele é mais ou menos, se está em 10º ou em 3º lugar, não tem a menor importância. Posso falar, por ele, o lugar não importa. Ele é um dos poucos artistas brasileiros premiados na Bienal de Veneza. Sua obra é uma referência iconográfica da nossa cultura. Se ele faz uma série de futebol, faz uma referência ao Pelé... Sua linguagem é, de certa forma, personalista. A importância da sua obra está exatamente no sentido em que a sua própria personalidade e dignidade foi guardada.

Takashi: Um lugar de destaque. Mereceria até maior destaque. Artistas como o Aldemir, o Mabe, a Tomie e meu pai, foram praticamente os pioneiros dessa arte contemporânea. Na década de 40, praticamente não existia um cenário de artes plásticas no Brasil. Não se tinha informações sobre o que estava acontecendo no resto do mundo. A grande influência veio das Bienais de São Paulo. Perceber o que eles passaram até chegar ao ponto que estão é uma vitória. Estou certo de que eles merecem o maior destaque e respeito possível.

Caciporé: Apesar do brasileiro não ter memória, das instituições serem levianas, não terem profundidade, queiram ou não, o Aldemir tem sua posição marcada na história da arte brasileira - e isso ninguém pode tirar. Seu valor, seu nome e seu trabalho, ninguém pode negar. Sua carreira é marcada por muita seriedade e profissionalismo. Você encontra permanentemente o Aldemir trabalhando no seu ateliê, sempre na sua prancha com aqueles óculos pendurados no nariz. Esta também é a marca de um grande profissional.

artes:: Como você encara o fato de Aldemir Martins ter influenciado inúmeros artistas e de não ter deixado nenhum discípulo?

Newton Mesquita:
Acho uma bobagem. Ele ensinou muito mais do que o maneirismo, o jeito de fazer. O Aldemir abriu as portas para uma nova postura. Se hoje em dia pagam uma fortuna para se fazer o desenho de um rótulo de bebida ou de uma embalagem, é graças a ele. Sua importância, sua herança é essa e não alguém que pinte como ele. O Aldemir é único!

Cláudio Tozzi: Ele deixou vários discípulos. Sempre vejo sua influência em várias exposições de pintura e de desenho. Essa coisa do desenho gráfico, por exemplo, foi uma grande abertura que influenciou a todos nós.

Rubens Matuck: Ao meu ver, a grande qualidade do Aldemir em relação aos novos artistas, é a influencia da sua postura, sua honestidade, sua generosidade, sua autenticidade e simplicidade. Ele tem a capacidade camaleônica que faz com que as pessoas não percebam sua grandeza sem tocar na sua própria individualidade. Essa coisa de discípulo seria o mesmo que criar uma espécie de artistinha em miniatura e o Aldemir sempre teve sabedoria suficiente para ver que isso é uma grande bobagem.

Gilberto Salvador: Ele nunca teve a intenção de ter discípulos - e pelo que eu saiba, nunca os quis. Acho essa visão de continuidade um pouco acadêmica. Tenho certeza de que o Aldemir não gostaria de deixar um filho ou um herdeiro artista. Gostaria mesmo é de nos deixar, o tempo todo, o prazer de orgasmos múltiplos!!!

Takashi: Por ter atuado em várias áreas, ele deve ter deixados muitos discípulos. A coragem de imprimir seus desenhos nos pratos da Goyana, as porcelanas pintadas por ele e vendidas nas Lojas Americanas por preços acessíveis... Tudo isso deve ter influenciado não só artistas plásticos como também artistas gráficos e designers. Foi uma iniciativa de levar uma arte não folclórica para um publico mais popular.

Caciporé: Eu acho que ele deixou discípulos. Não só pela sua conduta profissional mas também com outros tipos de influência. O Gustavo Rosa, por exemplo, pegou uma fase do Aldemir e desenvolveu com muito valor, com muita sensibilidade. Depois o Gustavo se distanciou, mas acredito que sua influência básica tenha sido do Aldemir, além de outros. O Aldemir deixou uma escola - uma escola de valorização do artista brasileiro. Como ele foi um dos únicos artistas brasileiros a ser premiado na Bienal de Veneza, os colecionadores pararam de ter vergonha de colecionar obras de artistas nacionais e passaram a ter obras do Aldemir e de outros artistas brasileiros entre os seus “Morandi”, “Jacometis” e “Brancuzis”.

artes:: O que você diria ou perguntaria para Aldemir Martins?

Newton Mesquita:
Quando vamos almoçar de novo?

Cláudio Tozzi: O Aldemir escreve muito bem. Sabe muito sobre literatura e tem um texto muito bom. Perguntaria por que ele não escreve um livro relatando suas memórias, sua luta para penetrar e conquistar essa grande divulgação e reconhecimento no mundo da arte.

Rubens Matuck: Perguntaria como uma pessoa pode manter o amor em sua vida por tanto tempo.

Gilberto Salvador: Perguntaria: Você acha legal contratar o Parreira? Esse bosta? Sei que você gosta dele mas não dá para encarar esse cara...

Takashi: Perguntaria se poderíamos almoçar. Adoro conversar com ele. Não faria uma pergunta intelectualizada. O gostoso é perceber a vivência dele e perguntar as coisas mais simples, porque ele sempre tem uma resposta inusitada, uma história.

Caciporé: Eu o convidaria para comer uma moqueca no Pitanga!

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