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18 .... Opiniões 2002 artes
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Os marchands & Aldemir

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Pescador, bico-de-pena, 72 x 51 cm, 1978, coleção Regina Bertizlian

André Blau, da Galeria André, hoje nova André galeria, vende pinturas de Aldemir Martins desde 1968. Há 34 anos. Desde que se intalou no número 2280 da rua Estados Unidos esquina com Rebouças, em 1998, já realizou três exposições de Aldemir Martins. Em abril próximo realizará a quarta. A curadoria desta mostra será minha. Em dezembro comecei a selecionar as obras. Durante semanas vivi cercado por 144 telas. Um dilúvio de cores. À noite sonhava com os vermelhos, os amarelos, os azuis, os verdes de Aldemir. Acordava feliz. Enquanto cuidava da exposição, do espaço, do catálogo e desta edição, conversei com o veterano marchand. Abaixo o que falamos. CvS


artes:: Quando foi que o senhor conheceu o Aldemir Martins? Onde?

André Blau:
Foi em 1963, 64. Na galeria André do centro da cidade. Na rua Vieira de Carvalho.

artes:: Nos anos 60, como era o Aldemir?

André Blau:
Desenhava intensamente e gravava muito. Água forte. Pintava também. Meu interesse sempre foi pela pintura.

artes:: Quando foi que o senhor vendeu a primeira pintura do Aldemir?

André Blau:
Abri a Galeria André em fins de 59. Vendi a primeira pintura do Aldemir em 1968.

artes:: O senhor tem idéia de quantas telas do Aldemir já vendeu de 68 até hoje?

André Blau:
Mais de 500.

artes:: Há no acervo da nova André galeria 144 telas. Quando foi que o senhor começou a comprar esse lote?

André Blau:
A partir de 1992. Compro há nove anos.

artes:: Quantas exposições do Aldemir a galeria já apresentou?

André Blau:
Três. Em 87, em 91 e 95. A quarta vai ser em abril.

artes:: Há no acervo da galeria pinturas de 86. Fizeram parte da mostra?

André Blau:
Fizeram. 90% das obras foram vendidas.

artes:: O quê o público prefere? Flor, fruta, gato, paisagem?

André Blau:
Flores. A preferência é por flores. São super alegres. As cores do Aldemir são únicas, alegram qualquer ambiente. artes: Como é trabalhar com o Aldemir?

André Blau: Fácil, muito fácil. É dos poucos pintores que mantém a palavra dada. Imensamente correto. Se por alguma razão de força maior atrasa e entrega, liga e pede desculpas. Coisa rara. Os outros não se dão ao trabalho.

artes:: E expor Aldemir? Fazer a exposição? Como é?

André Blau:
Nosso relacionamento é muito bom. Sem estresse. O Aldemir está consciente do que ele é e do que faz. Não tem urgência de expor. Isso facilita muito. Não é aquele negócio de sangria desatada. Entre uma exposição e outra há o espaço de três, quatro anos. Ele pinta, a galeria expõe. Respeitamos o trabalho dele e ele o nosso. É assim que funciona. Só posso dizer que é sempre um prazer trabalhar com o Aldemir. Suas telas explodindo em cores enchem a galeria de alegria. Uma explosão de cores. Alegria sem fim.



A mesma alegria e entusiasmo

Há muito não falava com Regina Bertizlian. Nos conhecemos nos anos 60, quando Regina abriu a Augosto Augusta e eu em 1965, este inefável jornal. Regina foi das poucas marchandes da época a me apoiar. Ousou programar seis anúncios. Acreditou na nossa sobrevivência. A maioria achava que não passaríamos do terceiro número. Naquela época já falávamos de Aldemir. Hoje, 37 anos depois, voltamos a falar, com a mesma alegria e entusiasmo. Isso é bom. Muito bom. CvS


artes:: Quando foi que você conheceu o Aldemir?

Regina:
Foi na década de 60.

artes:: Você se lembra onde?

Regina:
Por um acaso na verdade, eu estava na minha boutique na galeria da rua Augusta, e ele veio. Fez umas compras, e o conheci pessoalmente. Eu já o conhecia muito através das leituras de críticas. Lia muitos comentários, naquela época ele tinha ganho o prêmio de Veneza então, naturalmente, os jornais e todo o mundo fazia comentários. Li bastante coisa. Quando o conheci pessoalmente, ele já era uma pessoa famosa. Como pessoa, a figura dele realmente é uma coisa incrível, não só pelo bom humor como também pelo conhecimento que ele tem. Saber de todos os aspectos da arte é uma coisa incrível.

artes:: Quando foi que você começou a trabalhar com o Aldemir?

Regina:
Trabalhar propriamente foi no final da década de 60, quando eu ia abrir a Augosto Augusta, que aliás foi por intermédio dele, do Fernando Lemos e do Jorge Torok, que faziam parte da Maitiry, uma empresa que fazia divulgações também. Os três eram sócios e então se prontificaram a fazer, a cuidar desse meu espaço. Para criar uma coisa múltipla, não só galeria de arte como também boutique. Era uma coisa mais especial, porque não tínhamos este tipo de mercado no Brasil.

artes:: Você tem idéia de quantos papéis, desenhos, gravuras você já vendeu?

Regina:
Quantidade realmente não tenho. Só sei que foi bastante. Muita coisa.

artes:: Quando foi que você começou a colecionar os papéis do Aldemir?

Regina:
Na minha coleção tenho muita coisa, não só papel mas telas e objetos também.

artes:: Que tipo de objetos?

Regina:
De poliéster. Na ocasião era uma coisa nova, nem existia, ninguém estava trabalhando com poliéster em arte. Então, fomos os primeiros a produzir um série maravilhosa dos desenhos do Aldemir. Ele acompanhando, logicamente. Não só isso, como também as jóias que preparamos, porque fomos convidados a participar de uma exposição internacional de artesanato em Munich na Alemanha. Então ele desenhou algumas jóias que mandamos executar aqui e levamos também à esta exposição na Alemanha.

artes:: Quantas exposições você já fez do Aldemir na Augosto?

Regina:
Foram exposições sempre acompanhadas por algum dado diferenciado. Como lançamento de álbum, lançamento de um livro com desenhos da Cecília Meirelles e outros lançamentos dessa ordem, onde exibíamos as obras dele. As exposições dos múltiplos foi uma loucura realmente. A rua Augusta fechou de tanta gente que veio. Essas ocasiões foram as mais importantes. A última foi o lançamento do livro No lápis da vida não tem borracha, ed. Callis, 1999. Todas elas com absoluto sucesso eu posso dizer, tanto no movimento do público quanto na vendagem.

artes:: O que o público de modo geral prefere?

Regina:
É uma coisa mais para o lado da pintura e da gravura. O desenho é mais difícil. Pelo valor que ele tem deixa dúvidas nas pessoas quanto a adquiri- los, se bem que hojé é um pouco mais fácil. Mas no início era realmente muito difícil.

artes:: Como é trabalhar com o Aldemir?

Regina:
É uma coisa sensacional. Porque ele é uma máquina propulsora de idéias, de papo, de conversa, de sugestões novas. Realmente é uma figura que faz você “ir embora”, ir pra frente. É incrível.

artes: Você tem alguma preferência, pelo o que ele faz?

Regina:
De maneira geral, na pintura e na gravura eu aprecio demais a cor, que eu acho fundamental. No desenho é o traço, que é fabuloso. Daquelas sobreposições acontecem as figuras, as imagens, a natureza morta e a paisagem, que seja. O traço é muito forte. No desenho eu sinto isso.

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