"Coca Rodriguez vem desenvolvendo experiên-
cias visuais com peles. Em suas obras, a imagi-
"Quando a observação se remete aos valores
íntimos que movem o gesto criador do artista,o
imaginário revelado por via da imagem plástica
apresenta complexidade, cuja essência intima é
difícil decifrar.
Ë possível, entretanto, perscrutar idéias,
as quais movem, de alguma forma, a recepção
estética do observador,fazendo-o interator das
projeções do artista. Dá-se, numa dimensão fe-
nomenológica um ponto de encontro de experiên-
cia vivenciadas pelo artista e pelo receptor
da obra.
Adentrar à ordem de valores que a imagem
plástica sugere significa, pois, um movimento
de campo da imaginação, num universo de lem-
branças e pensamentos que marcam a existência,
que levam para alem da questões formais.
A artista Coca Rodriguez vem trabalhando
com papel, vem explorando suas possibilidades
de transparência, sua força de expressão maté-
rica. A artista utiliza técnicas múltiplas que
lhe alteram a textura, a cor e, sobre papel,
ela incide inscrições,sinais que assumem valor
simbólico e dão ao suporte este mesmo valor.
Nas suas experiências, o papel arroz ence-
rado toma a forma de "pele" provocando reações
sensoriais, tácteis, sensações que fazem voar
seu pensamento. Por via da "pele", surge-lhe a
necessidade de perscrutar o corpo, de "ver" e
"conhecer" o ser vivo, pr dentro.
Do seu trabalho resultam construções plás-
ticas de muita sutileza, geralmente, em gran-
des formatos, ora bidimensionais, ora tridi-
mensionais. E da articulação dos objetos co-
nstruídos nascem as instalações - lugar poé-
tico onde a artista cria situações e projeta
reflexões ontológicas. A obra criada é como a
"casa" onde nasceu, cresceu e viveu;a casa que
abriga seus devaneios e convida ao devaneio.
Uma "casa" que é, como diz Bachelard, um espa-
ço onírico, uma casa de lembrança-sonho, pedra
de toque para determinar valores verdadeiros,
Lugar onde a memória é guardada e de onde eme-
rgem movimentos profundos voltados à compreen-
são de sentimentos primordiais.
Os trabalhos de papel de Coca Rodriguez
registram o seu desejo de comunicar tais sen-
timentos. Diz a artista que seus papeis se
transformam em pele "suada, rasgada, costura-
da", revelando o tempo, "as cicatrizes, as en-
tranhas". E ainda falando de seu trabalho, ela
conta que quer mostrar "os poros" e com eles a
respiração, o pulmão com seus alvéolos, o ar.
Veias nascem do contraste entre as sutis es-
trutura e as transparências que cria para pen-
sar a pulsação (o coração, o órgão maquina)que
faz a vida e nos dá biologicamente a dimensão
do ser.
Na sua instalação há, também, potes de vi-
dro, repletos de gel (matéria fluída, transpa-
rente), onde se acomodam tiras de papel junto
a outros elementos. Nos potes vêem-se "as en-
tranhas" de onde se projeta a vida.
A vida e seu mistério continuam sendo eixo
de sua atenção, quando trabalha em torno do e-
lemento fundante - ar. Depois de observar os
poros da respiração, deixa o corpo e idealiza
uma asa.Sua feitura se dá coma sobreposição de
papeis tratados com cera, papeis colados, cos-
turados, úmidos manualmente, artesanalmente.
A asa solta-se no espaço, pode sobrepassar
a matéria, movimentando-se em conquista da li-
berdade.
A imagem poética criada pela instalação de
Coca Rodriguez faz emergir da consciência mui-
tos sentimentos que podem ser desdobrados e
provocam, por certo, o movimento de múltiplas
repercussões psíquicas.
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