"Dos sentidos do animal humano, o que mais
sofreu com a civilização foi o olfato. Vital para
quase todos os insetos por ser o principal meio
de comunicação, essencial para algumas plantas, o
odor se faz verdadeira proclamação de amor das
espécies pela vida. Coca Rodrigues trás para os
Paulistas na Paulista recordações de um universo
olfativo, de grandes (e falsos) insetos que com-
petem com os verdadeiros o domínio do planeta.Nos
blocos de cera da artista , o perfume das colméi-
as, que todos devemos penetrar, passear por entre
favos de mel imaginários, abelhas que todos somos.
Abelha pela operosidade, pela vida em comunidades
de milhões, pelo corre-corre, pelo trabalho como
(único?) sentido da vida, mas também pela poesia
do mel, pela coreografia dos andares apressados,
pelo aconchego uterino da colméia-cidade feita de
favos de cimento.
Entre o mel e o gel não há apenas a semelhan-
ça fônica,mas também o parentesco tátil e sobre-
tudo o brilho e a capacidade da retenção de luz,
dourada para um, prateada para outro. O grande
conflito entre os dois se dá na exuberância do
odor, (e desdobramento em sabor) contra a inodora
e insípida presença do outro: mais uma vez aquilo
que pode enganar a visão jamais enganará o olfato
e o paladar. Os sentimentos reprimidos, recalca-
dos, apenas podem ser resgatados pelos símbolos.E
é neste universo que Coca Rodrigues contrapõe aos
blocos de cera e os blocos de sabonete. Uns pro-
duzidos pela secreção corporal das abelhas, os
outros produzidos para banir a secreção corporal
do homem e simbolizar sua capacidade mimética
para os odores que a cultura do próprio homem um
dia classificou como mais amigáveis: o cheiro das
flores, do orvalho, da noite, da madeira e, não
por ultimo, o cheiro do mel."
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