fragmentos críticos


texto: Vários

POR UMA CIDADE VIVA. E MAIS POÉTICA

Uma característica atual do processo de pensar desenho urbano é a substituição do conceito de “fazer plano” localizado site specific, de consertar o existente, com suas deficiências e desgastes determinados pelas transformações e mudanças de uso, para o conceito de propor um desenho autônomo de “determinação” e gestão da cidade que estabeleça direções para seu uso e crescimento. Esta prática de projeto estimula um crescer ordenado e estabelece novas relações com a natureza e com o social. Abrange um conceito de cidade como espaço total. Cria uma cidade nova e não somente recupera espaços já construídos. É o conflito do existente visível com o “vir a ser” planejado que incorpora um certo grau de incerteza, de conflitos e diversidade que a transformam num “ser vivo”, em constante mutação, próprio dos processos de criação e inovação.

É pois um organismo vivo, e cada sulco, cada via que se constrói, implica a abertura de um novo espaço. Relações de cheios e vazios, que determinam sua fluidez e beleza. São intersecções que orientam os fluxos simbólicos no espaço da metrópole; resgatar para a cidade a leveza, a luz, a cor, os limites, as formas... Organizar seus espaços. Montar sua poética. Projetar sistemas de informação e equipamentos urbanos. Integrar as artes plásticas a este novo sistema. Questões amplas, para o contexto ato de intervir na cidade.

A questão específica do designer e programador visual é propor sistemas de objetos e signos de informações, criar uma semiótica urbana que se integre na conceituação ampla da cidade e não somente resolva questões que atual num território restrito.

É necessário que o designer, o arquiteto, e o artista plástico se integrem num processo de trabalho interdisciplinar. E sua formação deve ser ampla de informações tecnológicas e conhecimento de valores humanos, abrangendo questões que extrapolem o simples ato de criar ou de projetar, um objeto isolado. A cidade passa a ser um sistema único, seu desenho integrado, que resulta num ambiente mais propício ao desenvolvimento do homem em suas relações sociais e com a natureza.

O designer deve atuar na organização da comunicação visual e da semiótica urbana da paisagem. Sua área de atuação deve intervir na redução dos índices de poluição visual, permitindo uma leitura da identidade da cidade e criando sistemas coordenados de mobiliário urbano e demais equipamentos de uso da comunidade. As artes plásticas integram-se nesta nova metodologia de ver e pensar a cidade. A arte foge de seu habitat institucional, museus e galerias, e invade as ruas, praças, edifícios, a cidade é parte da paisagem, do ambiente urbano, da vida das pessoas. O projeto interdisciplinar de integrar e propor a síntese das artes é parte da complexa metodologia de conceber a cidade. Assim o artista plástico participa deste projeto interagindo com o arquiteto, planejador e o designer propondo releituras e intervenções que venham contribuir para o aprimoramento e beleza do ambiente urbano. São inúmeras as experiências de caráter ambiental, com intervenções sobre a complexidade do espaço realizadas por artistas, tendo como proposta redesenhar os espaços em sua entidade física e metafórica no âmbito das linguagens artísticas contemporâneas.

Esta unidade de ação de pensamento, da arquitetura e da pintura, pode determinar uma arte única e resolver as questões entre uma e outra. No início dos anos 20 Mondiam propõe uma obra total em que a arquitetura, pintura e escultura não se constituem em elementos isolados e sobrepostos mas se concretizam em uma expressão unitária. A partir de então as artes plásticas percorrem um caminho de superação da superfície que as contém. Transgridem. Sua existência transcende a representação e acontece no meio circulante (arquitetura, ambiente) tornando-se “massas de cor”, “pinturas objetos”, “land Art”, “performances”, “instalações”, e se tornam linguagens que se integram e se fundem com a arquitetura, com a cidade, com a paisagem urbana e com a natureza.

Claudio Tozzi