fragmentos críticos


texto: Vários

O FAZER DE UM ARTISTA-ARQUITETO

O atual processo de produzir e consumir a cidade modifica-se com o crescente e diversificado processo cultural. Substitui-se o conceito tradicional de pensar e olhar a cidade, de propor-lhe sobre o existente, conferindo-lhe imagens que a apontam como o lugar onde novos protagonistas trabalham de maneira singular, estimulando novas relações espaciais. Anseios, valores, ritos, enfim, suas emoções urbanas mesclam-se de imagens públicas e privadas onde as artes plásticas integram-se nesta nova metodologia de ver e pensar a cidade. A arte é estimulada a se projetar fora de seu tradicional meio - galerias de arte e museus, espaços herméticos e fechados - invadindo ruas, praças, espaços comunitários e coletivos, lugares públicos. A imagem da cultura urbana, da sociabilidade, tomando o seu espaço na paisagem, no ambiente urbano, na vida das pessoas.

Assim, permite-se verificar que, na arte contemporânea pós-vanguardista cabe ao artista o desafio da atitude criadora de fazer aquilo que julgar interessante.

Claudio Tozzi é um desses protagonistas que traz indagações com uma expressão singular de imagens comuns de fatos e objetos públicos e do cotidiano, que trabalha além da mera transposição formal. Obras que se tornam referências, pois foram pensadas naquele espaço total incorporado dentro desta visão poética.

Conheço o trabalho do artista Claudio Tozzi desde os idos do início de setenta e, desde meados da mesma década, tenho compartilhado de aulas com o também arquiteto e professor Cláudio Tozzi, onde falamos sobre estrutura da linguagem visual e as questões imagéticas urbanas que envolvem percepção visual na FAU-USP, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Com o passar dos anos e das oportunidades, continuei sempre desfrutando de sua amizade e pude confirmar a retidão de seu caráter. Tanto é verdade que, na virada do século, aceitei ser seu orientador na sua carreira acadêmica de doutorando.

Claudio Tozzi traça uma leitura sistemática de sua trajetória artística mostrando suas imagens incorporadas no espaço da arquitetura e da cidade. Destaca-se a nítida parceria do artista com o arquiteto num singular processo multidisciplinar. Enfim, uma arte única. Afirma que o seu processo da construção da imagem e sua aplicação são sempre relacionados com o espaço urbano.

Mui didaticamente o professor Tozzi atravessa nosso olhar perante a realidade visível: Guevara, astronautas, bandido da luz vermelha, parafusos, papagálias, colcha de retalhos, trama urbana, passagens... Depois, revisitação mágica e alegórica no tempo e no espaço, geometrias no tempo, rememorações, arquitetura, ambiente e artes plásticas, unidades de ação e pensamento. Massas de cor, pinturas objetos, land art, intervenções, performances, instalações tornam-se linguagens que se integram e se fundem com a arquitetura, com a cidade, com a paisagem urbana e com a natureza.

A sua trajetória no panorama das artes no Brasil está contextualizada na sua produção artística e profissional. Daí a questão do processo de construção de suas imagens aplicada e relacionada com o espaço da cidade. Configura-se, finalmente que é arte no lugar da arquitetura no fazer de um artista plástico e arquiteto.

Issao Minami