fragmentos críticos


texto: Sheila Leirner

Hoje seu trabalho possui raízes mais profundas na tradição da pintura abstrata. E isto se deve à dinâmica mais rigorosa das telas, às superfícies densamente amarradas, à ênfase ao contorno da pintura e à margem do quadro / objeto, ao jogo das relações formais (construtivas) na superfície e ao cromatismo emotivo.

Como os artistas das gerações anteriores, Tozzi desenvolveu a sua própria imprimatur. Sua assinatura - a retícula sobre a superfície - é claramente propriedade pessoal. Desenvolvida a partir do pontilhismo neo-impressionista, a marca de Tozzi torna-se agora uma síntese do conteúdo e imagem. Ela define as formas que preenche, articula a sua margem e esclarece os componentes de processo pictórico.

Estes trabalhos recentes contêm reminiscências dos anteriores. Apesar de abstratos, ali estão as passagens, escadas, arquiteturas os objetos do seu repertório. Mas ali está também a sua experiência pessoal com a arte - a hard edge, a arte pop, cubismo, futurismo, construtivismo, arte de estampa e até ilusionismo abstrato. Trata-se - como se vê - de um referencial mais rico e estimulante.

Tozzi sempre se interessou pela criação de obras d'aprés autores (Seurat, por exemplo). Nesta exposição, graças ao debito que têm com Monet, as pinceladas sistemáticas ativam a superfície da tela, que não é mais "carimbada" impessoalmente pelo rolo. Ao variar continuamente a sua paleta de cores nesta discussão sobre o estilo, o artista oferece agora maiores possibilidades de encontros com o inesperado.

As pinturas de Cláudio Tozzi começam a se tornar tensas, assertivas e investigadoras. Com suas formas recortadas e unidimensionais, suas pinceladas estilizadas, senso mais inovador de cores e imagens, e com as superfícies táteis e opacas - elas já possuem os elementos para dar o depoimento importante que agora prometem.

Sheila Leirner
Jornal da Tarde, 13.5.86