passagens
Na década dos anos oitenta, a cor encaminhava o artista para o desenvolvimento de uma maior plasticidade. Na série "Passagens", em 1984, as formas atuam como planos de cor que se definem através de seus contornos. Os planos se articulam e se sucedem, numa dinâmica de conjunto que nos reporta à pintura que os futuristas italianos realizaram no começo deste século, como Balla, Boccioni e, principalmente, Severini.
O artista adota um tema-pretexto para orientar a composição de seus trabalhos; a escala é realizada em planos sucessivos, que rompem com o ângulo reto do suporte e provocam novos recortes que dão formato à sua obra.
Frederico Moraes, na apresentação da exposição de Cláudio Tozzi na Galeria Montesanti, realizada em 1986, chama a atenção para o aspecto construtivo do artista. "Escrevendo sobre a última fase de Cláudio Tozzi, no inicio do ano passado (1985), afirmei que um dos equívocos da crítica brasileira é o de julga-lo unicamente por seus temas, quando a rigor, mesmo em seus momentos considerados políticos e participantes, ele é um artista abstrato, ou melhor, ele é m construtor de imagens."
A partir de modelos arquitetônicos variados, as escadas forma abordadas pelo artista de maneira objetiva, como elementos para analogias formais. Não provocam metáforas, nem suscitam elaborações literárias. Há um tratamento visual construído com tanta clareza que parece nos dizer (em relação ao tema) que a escada é igual a uma sucessão de planos que se sobrepõem, ou seja, que a escada apenas serva de pretexto para a composição da obra.
A cor, nesse período, já se expressa unicamente pela simples aplicação mecânica do rolo de borracha. A pintura adquire função prevalente, sobrepondo-se ao caráter gráfico. Cláudio Tozzi dá início a uma nova técnica. A pigmentação é trabalhada pelo toque do pincel, que provoca resultados diferenciados na superfície dos planos, tanto na intensidade dos tons, no tamanho das manchas, quanto na quantidade de tinta. O emprego do pincel amplia as possibilidades da cor, de sua carga poética e de sua eficácia pictórica.
Nesse processo de desenvolvimento de qualidades pictóricas, Cláudio Tozzi vai intensificar sua preocupação formal. Abandona o tema-pretexto para trabalhar unicamente com elementos plásticos de cores, linhas e planos.
Os planos são formados pela cor dominante, contida num espaço demarcado por linhas oblíquas e curvas, que provocam uma sensação visual de instabilidade e, portanto, de movimento. Essa instabilidade transforma o plano numa zona de tensão que atua sobre os demais, através de combinações de retas, curvas e ângulos, de contrastes cromáticos.
É sobretudo na simultaneidade de analogias de forma, de cor e de movimento que a composição adquire unidade. Os planos não podem ser vistos isoladamente; no conjunto eles se estabilizam, formando um todo que se dinamiza por contrastes.
A sua pintura procura, por meio de uma analogia formal, obter maior expressão plástica. Os elementos luminosos-cromáticos aumentam suas possibilidades de provocação sensorial, não apenas visual, mas também tátil e auditiva.
Cláudio Tozzi é um artista que está sempre em processo de reelaboração de sua linguagem, procurando superar continuamente suas próprias conquistas. Suas obras mais recentes revelam mudanças significativas no tratamento compositivo e espacial de sua obra.
A cor, mais uma vez, é responsável pelo salto qualitativo. Ela ganha materialidade, volumetria, através da aplicação de camadas sucessivas que se acumulam. O artista desenvolve tonalidades específicas para cada situação, chega a empregar o pó de cobre, de ferro e de latão para obter os efeitos desejados de pigmentação e de textura. Além das mudanças de ordem técnica com a cor, sua fatura revela maior plasticidade, mostra maior preocupação com o resultado das superfícies, com o seu aspecto tátil, pelo relevo que chega, muitas vezes, a adquirir características escultóricas.
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