obra em construção


uma nova construção pictórica

Agora suas temáticas vão construir-se da cor. Interessa-se por Seurat e por seu trabalho com a imagem-cor. Como o artista pontilhista, Cláudio Tozzi também constrói e geometriza a cor, racionaliza a luz e trata objetivamente a figura. Contudo, sua imagem-cor não resulta a uma decodificação da luz na natureza, nem corresponde à "visão cientifica" de paisagens como no neo-impressionismo de Seurat.

Não há pontilhismo na obra de Cláudio Tozzi. Não são pontos, são reticulas realizadas através de uma técnica muito simples, que substitui o pincel por um rolo de borracha reticulado. Aliás, esta técnica, trazida pelos imigrantes, era utilizada por pintores de parede, no começo do século, para decorar ambientes.

O pigmento de cor, em Tozzi, não é um produto da observação impressionista, mas uma elaboração gráfica da impressão off-set, do grão fotográfico, da "cor mecânica". Mario Schenberg coloca com clareza esse problema, num artigo escrito em 1977: "O pontilhismo das obras atuais de Tozzi é uma elaboração da reticula de sua gráfica, que por sua vez já se baseia em imagens fotográficas. Há assim um abismo que da o espaço para a criatividade do artista."

O rolo de borracha, cuja superfície foi reticulada, passa a ser sua principal ferramenta de trabalho. O pincel foi substituído por essa técnica que obteve um efeito surpreendente de reticula expandida. Trata-se, na verdade, de uma forma de imprimir cor na superfície da tela e, portanto, como observou Mario Schenberg, esse procedimento de aplicação cromática não tem nenhuma identidade com a técnica pontilhista e, apesar de sugerir uma aparência neo-impressionista, é mais uma experimentação gráfica elaborada pelo artista.

A partir dessa experiência com o rolo de borracha, seu trabalho vai adquirindo gradativamente maior força pictórica. À sua preocupação construtiva somam-se aspectos novos: a matéria, a textura, o recorte, a volumetria. A pintura assume, ela mesma, a preocupação principal de Tozzi. Ela é o próprio objeto da sua expressividade. O tema, outrora dominante, perde o significado e é tratado, como no caso das "Escadas", de maneira não metafórica, como mero pretexto formal para o desenvolvimento da expressividade pictórica. O tema é apenas o andaime que serve para a sua construção pictórica. Cláudio Tozzi trabalha com maior intensidade e, sobretudo, com maior autonomia, os problemas da pintura. Sua postura é mais intelectual, fria e impessoal. Um racionalismo cromático estrutura toda sua obra nesse período.