obra em construção


a arte engajada

Para Ferreira Gullar, a cultura tanto pode ser um instrumento de observação como de transformação social. "Para a jovem intelectualidade brasileira, o homem de cultura está também mergulhado nos problemas políticos e sociais sofre ou lucra com em função deles, contribui ou não para a preservação do status quo, assume ou não a responsabilidade social que lhe cabe. Ninguém está fora da briga."

Em 1968, Cláudio Tozzi "está na briga". Uma de suas obras - "Guevara Vivo ou Morto"- sofre um atentado e é praticamente destruída por um grupo de extrema direita, num processo de radicalização ideológica e de agressividade crescente, sobretudo naquele ano, marcado pelas lutas estudantis contra a ditadura, pelos movimentos de massa que procuravam restaurar a democracia e, por outro lado, pelo golpe dentro do golpe, com a promulgação do ato institucional n. 5.

Sua obra incomodava porque não estava restrita ao circuito artístico, porque não se restringia aos problemas estéticos. Sua produção não estava voltada apenas para a dinâmica interna da linguagem pictórica, mas voltava-se, sobretudo, e de forma engajada à realidade, para as contradições políticas e sociais daqueles anos.

A dimensão de suas pinturas ampliava-se parra interferir na escala da cidade, procurando espaços freqüentados por multidões.

Fazer arte não era apenas um processo de comunicar sua vivencia interior; tornava-se necessário, tanto na escolha do tema quanto no seu tratamento, encontrar uma linguagem coletiva, isto é, acessível às massas. O artista chegou a utilizar textos em suas obras, segundo seu próprio depoimento, "para reforçar o conteúdo semântico da imagem". Seus temas são multidões e heróis de multidões, realizados num período de comícios agitados, de greves, de passeatas, de protestos e de sonhos revolucionários.

Dessa forma a leitura de suas obras produzidas nesse período não pode ser feita isolada ou desvinculada da análise e da compreensão daquele momento histórico, nem da dinâmica social e cultural de seu engajamento. Fora desse contexto, toda leitura de sua obra voltada apenas para seu significado artístico é deformante e limitado, até porque um de seus significados fundamentais se refere ao contexto que lhe deu origem.

A partir de 1969, os trabalhos de Cláudio Tozzi deixam de expressar impactos políticos e perdem o caráter panfletário. Os tempos não permitiam. As séries "Astronautas" e "Futebol" dão início a uma preocupação mais elaborada de sua imagem visual. Sua obra vai se desenvolver numa outra dinâmica, permitindo-lhe deter-se mais sobre cada tema, já que a dinâmica dos fatos e dos enfrentamentos não se dá como no ano anterior. A luta armada leva a ação política para a clandestinidade e a violência da repressão alija e impede as massas de se manifestarem. Essa nova situação, por outro lado, provoca um afastamento e cria uma nova relação, na obra de Cláudio Tozzi, entre arte e fato. Por outro lado, o conduz a um ritmo diferenciado de trabalho, o que lhe permite aprofundar sua reflexão sobre o tema, desenvolver novas alternativas no emprego das imagens e explorar de forma mais abrangente as possibilidades gráficas.