a obra como paródia
Em 1967, Cláudio Tozzi interessou-se pela obra do artista norte-americano Roy Lichtenstein. Impressionou-se pelas sátiras gráficas desse artista pop que se parece ridicularizar os símbolos máximos da sociedade e os valores culturais dos Estados Unidos, utilizando imagens consagradas, principalmente as das histórias em quadrinhos, através de recursos de reticulo, de fotoampliação, e de efeitos de "ready-made" gráficos.
Tozzi apropria-se de Lichtenstein, alterando seu contexto e seu significado ao usa-lo como suporte, ao servir-se dele para aprofundar críticas à nossa dependência cultural e artística.
A apropriação revela duas posturas diferentes frente à realidade. Segundo uma afirmação de Lichtenstein, citada por Mario Pedrosa na crítica "Quinquilharia e Pop-art", a "Pop-art olha para fora do mundo e parece aceitar seu meio ambiente, que não é bom nem mal, mas diferente, outro estado mental." Afirma ainda que "na paródia, a implicação é de perversidade, e eu sinto que na minha obra não é esta a minha intenção. Porque não desgosto do mundo que estou parodiando (...) As coisas que aparentemente parodiei, na realidade as admiro". Entretanto, esse conformismo - ou ainda esse otimismo - com o mundo circundante nada tem em comum com a posição de Cláudio Tozzi. Seus trabalhos realizados em 1967, como o "Bandido da Luz Vermelha", "Ocorrência 3114", "Mulher olhando a janela", "A Guerra Acabou", entre outros revelam, ao contrario de Roy Lichtenstein, uma intenção de crítica a determinadas situações sociais e, apesar da utilização dos elementos consagrados pela mídia publicitária que estimulam e criam motivações para o consumo, o artista, ao transpor esse conjunto de signos para a tela, ridiculariza seu significado original: ou invertendo os sinais, ou colocando-os numa situação de inquietante ambigüidade. Nelson Aguilar, historiador e crítico de arte, observa que Cláudio Tozzi projetou e realizou a "paródia da paródia": servindo-se dos mesmos recursos do mestre norte-americano e através da personagem do cérebro transgressor, mostrou até que ponto o colonialismo cultural brasileiro poderia ser desnudado.
Nessa época aparece seu primeiro grande tema, "O Bandido da Luz Vermelha", composto de doze painéis expostos em torno de um eixo, criando um espaço fechado, de dodecaedro, com interferência, com interferência de luzes vermelhas que piscavam intermitentemente. O bandido da luz vermelha foi um dos mitos efêmeros da grande cidade, uma espécie de anti-herói, que durante algum tempo perturbou o sono da classe média de São Paulo.no conjunto, o tema se desenvolve num clima de ação e de erotismo, de temor e de amor ao bandido, de desejos. Uma aventura que tem como pano de fundo, na obra de Cláudio Tozzi, as estrelas da bandeira dos Estados Unidos.
Sua temática, no ano seguinte, adquire maior contundência política e chega a ser panfletária. A paródia perde o humor, mas aprofunda a crítica, a denúncia. Algumas obras desse período: "Fome", "Luta", "Prisão", "Revolução". Os próprios títulos já anunciam seu engajamento.
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