Wagner e a maça do amor

O domingo amanheceu lindo. O céu azul. O sol brilhando. Deixei de lado o vou não vou. Fui ao Ibirapuera. Afinal não é todo dia que se tem o privilégio de ver Kurt Masur, 72, reger e a Filarmônica de New York, tocar.

Muitos carros, muitas motos, muitas bicicletas. Policiamento, nenhum. Gente, muita gente. Milhares de pessoas. 80.000. Mais do que no Morumbi, no jogo do Corinthians e do Grêmio.

Senhoras que se produziram para ouvir a Filarmônica passavam impávidas com seus chapéus de verão, de praia, enfeitados com esvoaçantes echarpes. Seguiam em direção à Praça da Paz como bando de alegres e barulhentas maritacas.

Camelôs e ambulantes por todos os lados atravancavam a passagem oferecendo óculos de todos os tipos e cores a doce de coco e quebra-queixo. Comida, bebida, brinquedos, chapéu de tricô, de palha. Enorme feira livre em que se podia comprar variedade enorme de produtos.

Em frente ao palco, convincente réplica do Theatro Municipal, (atenção revisão é th mesmo), 80.000 pessoas se esparramavam sentadas em vários tipos de cadeira, em pé ou deitadas na grama.

Não gosto de multidão. Fiquei à distância. Sentado na grama. Vendo e ouvindo tudo que acontecia à minha volta. Do palco o locutor informou que "a grande dama do teatro e da televisão, Aracy Balabanian iria falar sobre a Filarmônica e o concerto."

Terminada a fala da "mãe da Magda", o maestro atacou de Hino Nacional. Pela primeira vez na minha vida ouvi o "Ouviram do Ipiranga..." tocado decentemente e eficientemente.

Depois tocou o dos Estados Unidos. Sempre soa melhor. Dessa vez não. Espero que alguém tenha gravado o hino brasileiro. Um arraso!

E o concerto começou. Primeiro Os mestres cantadores de Nurembergue, de 1862-1867, de Richard Wagner. Depois a Sinfonia Número 1, de 1925, de Shostacovich e finalmente Till Eulenspiegels, de 1925, Richard Strauss.

Execuções irreprocháveis, impecáveis. Fazem jus aos 159 anos de existência da Filarmônica. Mas, tem um porém.

Acredito que a escolha da sinfonia de Shostacovich não foi a mais acertada. A delicadeza melódica dos pífaros, flautas e oboés perdeu-se na amplidão do parque, no meio da multidão. Pena.

Depois da suavidade da Número 1 aproximei-me um pouco mais. Mesmo assim foi difícil conciliar Strauss com crianças mal educadas correndo, gritando em frente de pais indiferentes às gracinhas inconvenientes dos filhinhos, senhoras matraqueando sem parar, insuportáveis poodles e outros cachorrinhos excitados, latindo, camelôs apregoando cerveja, refrigerante, água gelada, maçâ do amor.

Mas, apesar dos pesares, valeu a pena. Valeu, como dizem por aí.


Carlos von Schmidt/cvs 18/6/2001 17,10h. Chove e faz frio