Quem te viu e quem te vê
Estas são minhas primeiras impressões sobre a 25ª Bienal Internacional de São Paulo. Se fosse possível avaliar a Bienal pelo número de pessoas que compareceram à abertura, fala-se em 10000, um sucesso. Acontece que não é quantidade de gente que determina a qualidade da mostra.
Hoje falarei de duas performances que vi. A primeira de um armênio , todo de preto , que se deitou , como se capacho fosse, na porta de entrada. Chama-se Azat Sargsyan. Sua performance constitui-se de 3 tempos: a 1ª denominada, Welcome, Boas-Vindas é a que deita na porta da Bienal, tendo escrito na frente da camisa preta, Welcome. A 2ª, Without Masks, Sem Máscaras, Azat de roupa preta percorre a Bienal carregando um espelho nas costas. Depois de perambular pelo espaço da mostra joga o espelho no chão, quebrando-º A 3ª, Help Me, Ajude-me, o artista tira a roupa e coloca-se nu, em pé, preso ao chão por fitas amarradas em pegadores de roupa de madeira, presos aos pelos do corpo. Imóvel espera que alguém o liberte. A performance não passa disso. Só vi a 1ª parte. Ou melhor, revi alguém deitado na porta da Bienal. É provável que Azat não saiba que deitar na porta da 3ª bienal do mundo é coisa corriqueira. Um quase hábito. Quebrar coisas, ficar pelado também não é novidade. Nada tem de original.
A 2ª performance foi do japonês Orimoto Tatsumi. Fui informado que Tatsumi já fez performances no Nepal e na Tailândia. E claro, no Japão. Agora chegou a nossa vez. Estava placidamente sentado no banco ao pé da rampa que sobe para o 1º andar quando um nipônico aproximou-se e falou: "prease this prace of artist" Percebi que apoiado ao banco havia um saco cheio de baguetes de pão francês. Afastei-me pois " the prace " era do artista e fiquei vendo o artista sentar-se no banco que eu e 3 jovens chilenas compartilhavamos. Tatsumi sentou-se. Na mão direita levava um sininho. Desses usados em cerimônias religiosas no Japão. Um ajudante aproximou-se e com diligência amarrou ao rosto do performer varias baguetes. Uma verdadeira máscara de pão. Terminada a máscara, amarrou em um outro japonês que parecia atoleimado, outra máscara de pão. Tatsumi continuou a tocar o sino. Prontas as máscaras, o que amarrava liderou a caminhada pela Bienal, seguido por vários fotógrafos e videomakers japoneses fotografando e gravando sem parar. Foi o que vi na minha primeira visita à 25ª Bienal Internacional de São Paulo.
Na 23 de maio indo para casa só o som do sininho permaneceu. Lembrei-me do templo zen em que dormi em Kyoto. Com certeza o registro da performance nas fotos deve ser melhor daquilo que vi.
Sem saudosismo as bienais dos anos 50 me deram muito mais. Foi na de 53 que vi Guernica de Picasso. Preciso falar mais???
Carlos von Schmidt/CvS 24/3/2000 meia-noite
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