O altar no Guggenheim

Três artigos, Museu Guggenheim: corpo e alma? de Vik Muniz, publicado sábado , 10 de novembro, na Folha e As feras pernambucanas em Nova York e Brasil sem corpo nem alma de Elio Gaspari, na Folha de 11 do corrente, juntos com a notícia da avaliação da mostra pela revista The New Yorker, dão conta de que a exposição Brazil, Body and Soul ficou aquém do hercúleo esforço e da intensa espectativa que antecedeu o vernissage da mostra.

Não cometerei a imprudência de escrever sobre a exposição que não vi, mas posso, através dos relatos de Muniz e Gaspari, deduzir que o arquiteto Jean Nouvel, de quem vi exposição inesquecível na FAAP em 1997, pisou na bola. E não pisou sozinho. As curadorias de lá e de cá não só pisaram como chutaram a bola para fora.

Pelos artigos mencionados e outros anteriores percebe-se que a Nouvel só interessou o altar-mor. O espaço e a luz que dedicou à arte moderna e contemporânea brasileira foram no mínimo insuficientes.

Artistas brasileiros que nunca foram expostos em museus norte-americanos contavam com maior visibilidade e consideração. Este era o momento, o lugar e a hora certas, para a arte brasileira, moderna e contemporânea, sair do anonimato. Afinal, não é novidade nenhuma que a arte brasileira nos Estados Unidos é ilustre desconhecida. Com exceção de Guerra e Paz de Portinari, expostos na ONU em New York desde 1957, nada mais há. Qualquer norte-americano medianamente instruido sabe quem é Frida Kahlo, mas nunca ouvi falar de Tarsila do Amaral, de Vicente do Rego Monteiro.

Cabe a curadoria de mostra de tal porte a total responsabilidade pelas falhas concernentes à montagem provocadas pela falta de planejamento e execução. Depois de todas as grandes mostras montadas pela BrasilConnects, Parade é um exemplo extraordinário, erros, falhas desse tipo não tem justificativa. Nem explicação.

Fica visível que Edemar Cid Ferreira está fazendo sua parte com visão e determinação. Seu trabalho é digno dos maiores elogios. O mesmo não se pode dizer de seus assessores e curadores. Os artigos que estão sendo publicados deixam isso bem claro. Pena.


CVS l1/11/2001 21,50.