Nus de amante de Picasso


Geneviève Laporte e Picasso nanquim 1951


Amanhã, no Hotel Dassault de Paris vinte desenhos dos cinqüenta que Picasso fez de Geneviève Laporte, serão leiloados pela Artcurial. São nanquins sobre papel. Medem em média 20x30cm. O conjunto está avaliado entre US$1.800 a US$2.400 milhões.

Geneviève Laporte tinha dezessete anos quando conheceu Picasso em 1944 em Paris. Foi entrevista-lo para o jornalzinho do ginásio. Ficaram amigos. Sete anos depois, em 1951, se tornaram amantes. Picasso estava com 70 anos. Geneviève, 24.

Os desenhos que irão a leilão foram feitos chez Palmyre em Saint-Tropez em julho e agosto, no verão de 1951. Foi nesse verão que Françoise Gilot decidiu deixar Picasso. Geneviève foi a gota d’água. Paul Éluard e sua mulher Dominique estavam com Picasso e Geneviève em chez Palmyre.

Dois anos depois, em 1953, na fazenda Beaufort, em Arbonne, na floresta de Fontainebleau, na hora de ir embora Picasso pediu a Geneviève que fosse viver com ele em Vallauris. Françoise tivera a "ousadia" de deixá-lo.

Geneviève respondeu:
"Troque os lençóis primeiro".

Picasso não trocou. Foi mais fácil trocar Geneviève por Jacqueline Roque. Trocou! Casou-se com ela em 1961. Picasso morreu em 1973. Jacqueline se matou em 1986.

Das mulheres que fizeram parte da vida de Picasso, duas estão vivas, Françoise Gilot com 83 anos e Geneviève Laporte, 79. Ambas, depois do período Picasso viveram suas vidas. Françoise, pintando, escrevendo. Geneviève, escrevendo poesias, publicando-as, fazendo jornalismo e documentários na África para cinema e televisão. Fez 18.

Para elas Picasso "foi um rio que passou em suas vidas". Françoise quase afogou. Nadava bem. Sobreviveu. Geneviève ficou à superfície. Escapou da correnteza. Saiu rápido. Sã e salva.

Hoje diz que está se desfazendo dos desenhos para poder revelar um lado de Picasso, que mulher nenhuma viu: tímido, gentil, amoroso, doce. Como dizia Pietro Maria Bardi, "se não é vero é bene trovato".

São Paulo, 26 de junho de 2005 Carlos von Schmidt 12H35