Anotações de viagem

Dia 30 de manhã tomei o avião para Belo Horizonte. Fui em companhia de Lúcia Helena Prianti da nova André galeria da Gabriel Monteiro da Silva, ver obras de Sonia Ebling. Vimos. Selecionei 17. Devem fazer parte de exposição em andamento. Para o 2º semestre.

Tarefa cumprida fomos ver as esculturas de Paulo Coelho. Seu trabalho figurativo, verdadeiros exercícios de estilo não me interessou. Outros, sem o incômodo fantasma de Rodin a rondá-los, sim. Coelho joga com o espaço, o movimento, a inércia. Sobre lâminas de metal, verdadeiros cortes espaciais, suas esferas sugerem dinâmica permanente mesmo quando em total repouso.

Está na hora de definir-se. Espero que saiba faze-lo.

Na galeria Regard esculturas de Ricardo Carvão me chamaram à atenção. Formas que buscam o espaço, prenunciam vôos, sugerem ascensão. As esculturas que vi, leves, voláteis, estão muito distantes de obras que Carvão fazia há dez, quinze anos atrás. Isso é bom.

Na galeria AM surpresas várias. Boas. Acervo de primeira. Os barcos de Jaime Reis, por exemplo. Esses barcos/esquifes, com seus anti-remos, seu avião que não voa, merecem análise mais atenta. Agora não é o caso. Estas são notas de viajante apressado Mas, não pude deixar de olhar várias vezes esses barcos que me falam diretamente e me fazem pensar no Atlântico Norte, em velas ao vento, gosto de sal na boca, ondas enormes, o furacão Josephine rugindo , a morte à espreita. Espero um dia saber mais sobre esses barcos que não navegam. Esses aviões que não voam. Sobre esse avião que não é um aeromodelo. Esse avião feito para não voar.

Outro artista que me intriga é Luchessi. Suas caixas duchampianas nos propõem múltiplas leituras. Cada uma é uma viagem ao universo do artista e por extensão nossa. Nessa ambigüidade reside o encanto , o mistério, a sutil virada de mesa. Aqui, o toque mineiro, o jeito, ganha foros universais. A linguagem é arquetipal.Quando deixava a AM cercado por esculturas de Dan Fialdini, dignas e sóbrias em seus sonhos de mármore, vi um peixe de Azevedo. Em arame. Na hora lembrei dos desenhos que Vic Muniz faz em arame. Neles, a elegância e sofisticação conceitual sugerem outros approachs.

Talvez se esse peixe mineiro chegasse às vitrinas do MoMA críticos de arte encontrariam na simplicidade do aramado, conotações outras que não vi. Quem sabe...

Gostaria de ter visto as últimas pinturas de Thereza Portes. Seu fauvismo é uma luz benéfica, revigorante. Esculturas de Paulo Laender, de Marcos Coelho Benjamin não tive chance de ver. Não sei quando voltarei. Espero que seja breve. Há uma perdiz com risoto de funghi à minha espera no Ouro Minas. Muita pintura, escultura, para ver. Só tenho que ir. Irei.


CVS 8 fevereiro de 2002.