A maciez do concreto
Concreto macio? Esse cara pirou. Pirei não! Nunca estive tão lúcido. Refiro-me à maciez da pintura concreta. Aquela,
dos anos 50. Que fez frente à enxurrada abstrata. Ao Concretismo. Do qual Waldemar Cordeiro foi porta bandeira, sparing
e pai-de-santo.
No dia em que vi a exposição de Luiz Sacilotto, as pinturas nas parades me fizeram pensar em Cordeiro, no bar do
Museu de Arte Moderna, na 7 de abril. Enfático, defendendo o concretismo. Alto, forte, impunha respeito. Articulado,
convencia pela inteligência, não pelo porte. Mas, o tamanho ajudava. Ninguém se metia à besta.
Mas, não estou aqui para falar do Cordeiro. Fica para outra vez. Hoje vou falar de um livro. De Enock Sacramento.
Jornalista, crítico de arte. É dos poucos que escreve sobre arte brasileira que consigo ler. A maioria é mediocre.
Pedante. Desinformada. Desavisada. Desligada. Um horror.
Conheço Enock há muito tempo, mas vejo o raramente. A última vez que o vi, foi no MASP, na saída da exposição
Humanismo Lírico de Guignard. Desse encontro nasceu um artigo que lhe pedi e escreveu. Foi publicado no
Madalena de julho do ano passado.
Naquela noite falou-me que estava escrevendo um livro sobre o concretista Luiz Sacilotto. Daí, sumiu. Sorveteu.
Há dois dias recebi convite para o lançamento do livro e encerramento da exposição de Sacilotto, na Dan Galeria, rua
Estados Unidos, 1638, sábado 12 de maio das 10 às 14 horas.
Quando cheguei às 13,30, havia fila para os autógrafos de Enock e de Sacilotto. Enock, como todo bom mineiro bem
educado, ao me ver abriu um sorriso que lhe iluminou o rosto. Terminou de dedicar o livro a uma loirinha charmosa,
deu-lhe um beijinho e veio me abraçar com um livro na mão.
Agradeci e pedi-lhe que voltasse ao "trabalho". Disse-lhe que o autógrafo ficaria para outro dia, ou melhor,
noite, no Castelões do Brás. Achou ótimo. De modo geral livro sobre artista brasileiro é um porre. Autênticos coffe
table books acrescentam pouco à obra e aos focalizados.
O livro de Enock sobre Luiz Sacilotto, não. Pode-se perceber a diferença já na capa. Nas guardas. Ambas minimalmente
concretas. A essência da essência. Malevitch tiraria o chapéu para Sacilotto. Vasarely não ficaria atrás. Antonio Maluf,
que em 1951 concorreu ao concurso para o cartaz da primeira bienal com um poster concreto, e ganhou, sem dúvida bateria
palmas para as duas obras que deram origem à capa, e às guardas. Retângulo eventual, de 1954, do acervo do MAC, e Concreção
7553, de um colecionador.
Li com atenção e interesse o texto de Enock. Sem pretensões eruditas, filosóficas, psicológicas, vai direto ao ponto.
Se as imagens falam do percurso biográfico e artístico de Sacilotto, o expressionista de primeira que encontrou no
Concretismo sua forma de expressão, o texto de Enock complementa-as com precisão e objetividade.
Nesse mar de coffe table books que anda por aí, Sacilotto, o livro, é uma ilha, um porto seguro. Ainda
bem que a Orbitall e a Byk Química abriram suas burras.
maio/2001
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