Valdir Sarubbi
nasceu em Bragança, Est. do Pará
1939 - 2000

"A observação da obra e da pessoa de Valdir Sarubbi não transmite nenhuma sensação de angústia, de inquietude, de qualquer tipo de crise. Valdir é um ser humano pacato, cuja simplicidade no convivio esconde uma rica vida intelectual diversificada e abrangente, com interesses que vão de Thomas Mann e Yukio Mishima à música de Mozart, que ele conhece como poucos. Seu atelier é pequeno mas ordenado, refletindo,talvez, um passado(já bem enterrado lá no fundo) de ex-advogado que um dia se descobriu como artista. E se descobriu ao sair de uma situação limite: uma cirurgia cardiaca, na época em que fazê-las era risco certo de vida. Tudo isso é contado aqui apenas para definir o pano de fundo, no essencial harmonioso, sobre o qual se desenvolve a obra de Sarubbi. E digo no essencial porque é claro que ele não seria humano e não seria artista se não experimentasse,também, de quando em vez,suas angústias. Fala sempre da "insatisfação interior" que no correr dos anos balizou sua produção,fazendo-o mudar de uma fase para outra, quando a anterior parecia esgotada. Ainda assim, foram mudanças, também,harmoniosas,bem amarradas entre si. Sarubbi não é um artista programático, não tem um propósito teórico nem uma tese a defender; mas é um artista linear, sem sobressaltos. Um grande ethos único preside o fluxo de toda a sua criação, e o podemos situar na circunstância geográfica do autor.

Nascido no Pará, ele vivenciou desde sempre a selva e o rio. Mas não os vivenciou como uma realidade dramática. Retomando uma expressão que utilizei no texto sobre Antonio Henrique Amaral, diria eu que o artista paraense não ostenta, como o paulista - paradoxos saudáveis! -, a grandiloquiencia de uma dicção amazônica. Seu motor é outro. É uma espécie de mapeamento visual e sentimental da região, seja em seus aspectos fisicos, seja em memórias, sedimentos, arquétipos e emoções pessoais, tudo feito predominantemente em surdina, como convém ao temperamento de Sarubbi, e embasado também em sua experiência de homem culto.

Ao longo da carreira, ele trabalhou esses materiais em pelo menos sete fases, todas representadas nesta exposição - que se torna, assim, uma pequena mas completa retrospectiva. No começo, encantou-se pela ornamentação marajoara e a traduziu para obsessivos desenhos labirinticos. Mas sua obsessão nunca foi visceral,como, por exemplo é por comparação, a dos desenhos também obsessivos e labirínticos de um Farnese de Andrade. Por outro lado, a selva já estava metaforicamente anunciada nos labirintos de Sarubbi; mais tarde, a partir de aerofotogrametrias, ele chegou a resultados plasticamente parecidos. Depois de passar por uma fase narrativa (sugestões de paisagens se decompondo em jogos geométricos, prismáticos, recurso de época tambem usado por Tomoshigue Kusuno e Inacio Rodrigues), Sarubbi retomou os desenhos intrincados, desta vez contendo-os dentro de recortes triangulares, remanescentes de tangas de índios e muiraquitãs, e trabalhou sobre mapas aéreos, assinalando aqui e ali, com um ponto rubro, as aldeias indígenas. Fez-se a confluência entre o observado de muito perto(o detalhe do ornamento) e o de muito longe (a vista aérea), visualmente similares. A evolução prosseguiu por uma série com um título literário ("Antiguos duenos de las flechas"), alusivo ao universo indigena associado ao ecossistema amazônico. Mas, como disse de inicio, tudo em Sarubbi se processa muito naturalmente, uma etapa saindo da outra. Com coerência absoluta ele retomou, na decada de 80,o que chama "geofagias": fusões onde a vista aérea se torna labirinto, num exercicio progressivo de abstração. Obras abstratas concluem a presente mostra.0 que mais as enriquece e a ambiguidade. Nascem, operacionalmente, de respingos, de gestos, de matérias caprichosas, como toda pintura de carater informal, não-construtivista. Sugerem, entretanto, leituras metafóricas para outras realidades do rio: talvez o fundo, se visível; talvez a água ao microscópio, pululante de vida. Ou talvez, ainda,a propria superficie, observada de certa distância, pontuada por fragmentos da selva: insetos, pequeníssimos animais, folhas secas. Nessa ambiguidade final (a qual não falta, coerentemente, um novo tipo de trama obsessiva) reside o resgate permanente da amazonidade de Sarubbi. E ela não e sinfônica; procura a contenção e a sutileza da música de câmara."

Olívio Tavares de Araújo




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Sarubbi Sarubbi
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